2007-10-10

Mudança de blog

Caros amigos,

A imagem deste blog já não me agradava particularmente. Por isso, à cerca de uma semana atrás criei um novo blog. O endereço é http://novasrotas.blogspot.com.

É diferente. Passem por lá.

Abreijos

DS

2007-07-10

«Tal como vos amei, amai-vos também uns aos outros»

“Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros”… Quem escuta este mandamento, ou melhor, quem lhe obedece, é renovado não por qualquer amor mas por aquele que o Senhor definiu, acrescentando, para o distinguir de afeição puramente natural: “Como eu vos amei”… “Todos os membros do corpo cuidam uns dos outros. Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se alegram com ele” (1 Co 12, 25-26). Com efeito, eles ouvem e observam esta palavra: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros”, não como fazem os desregrados, nem os que se amam apenas porque têm a mesma natureza, mas como se amam os que são “deuses” (Jo 10,35) e “filhos do Altíssimo” (Lc 6,35), para se tornarem assim irmãos do Seu Filho único. Esses amam-se uns aos outros porque Ele próprio os amou, para os conduzir a um fim que os saciará, lá onde o seu desejo poderá saciar-se de todos os bens. Na verdade, todos os desejos serão satisfeitos quando Deus for «tudo em todos» (1 Co 15, 28)…

Aquele que ama o seu próximo com um amor puro e espiritual, quem amará nele senão Deus? É este amor que o Senhor quer separar da afeição puramente natural, ao acrescentar: “Como eu vos amei”. Que é que Ele amou em nós, senão Deus? Não Deus como nós o possuímos já, mas tal como Ele quer que o possuamos quando “Deus for tudo em todos”. O médico ama os doentes por causa da saúde que quer dar-lhes, não por causa da doença. “Assim como vos amei, amai-vos uns aos outros”. Foi para isso que Ele nos amou: para que, por nossa vez, nos amássemos uns aos outros.

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja

2007-06-23

Casar ou acasalar?

Já lá vai uma semana desde o “casório” dos meus amigos Pedro e Paula. Foi mais uma manifestação de amor entre aquelas duas pessoas a que eu tive o prazer de assistir. É raro nos dias de hoje ver um amor tão sincero. Por isso vou partilhar convosco um texto que li acerca da matéria.

DS

«Um encontro, … depois de muitos anos. Os cumprimentos, a conversa e as inevitáveis, saudáveis e saudosas recordações. Apesar da correria da vida, sempre se arranja um bocado de tempo para os amigos. No decorrer da conversa lembram-se os amigos, os companheiros. Toca a perguntar pelos outros… Fulano assim, sicrano assado, beltrano … Que é feito dele? Acabou o curso? É casado? … Inesperadamente a resposta, acompanhada de um sorriso algo malicioso, trouxe, não direi algo de novo, mas dito de uma maneira diferente: Vai-se casando. Não ficou por aqui a nossa conversa, trouxemos à memória os velhos tempos, como se costuma dizer, e … a despedida.
À alegria do encontro segue-se o caminho para casa. Devo dizer que um dos locais onde me apraz mais a divagação do pensamento é o automóvel. A música e as notícias que fui ouvindo não chegaram à minha consciência. Ia absorto comigo mesmo. Vai-se andando, vai-se estudando, vai-se vivendo, vai-se ficando mais velho. Parece que a vida vai acontecendo, parece que tudo vai correndo. Dá a impressão de que não há decisões a tomar, não há caminhos a percorrer, não há projectos a realizar. E fui pensando a vida e fui pensando como nós andamos no mundo assim como que … para ir andando. A superficialidade envolve-nos, a abordagem dos grandes problemas da vida é meramente acidental, os grandes desafios que se nos deparam são abordados apenas pela rama. A triste imagem de uma leviandade sem medida, de uma vida sem objectivos definidos, de um caminhar sem ideais capazes de nos atirarem para a frente, correndo os riscos, contestando opiniões, remando contra a maré.
Que lugar para as decisões assumidas e responsáveis? Que espaço para as necessárias tomadas de posição perante as realidades que nos cercam? Que linha de rumo seguir?
E entrei nesse mundo do vai-se casando… para me interrogar.
Em primeiro lugar, creio que seria mais correcto trocar a palavra casando por acasalando. Depois, gostaria de aprofundar esta ideia: casar é uma coisa, acasalar é outra! Na verdade, sinto que hoje as pessoas estão mais do lado do acasalamento do que do lado do casamento. Se olharmos com atenção à nossa volta, podemos mesmo ficar preocupados.
Casar é uma coisa, acasalar é outra, indiscutivelmente. Acasalar é ocasional, acidental, superficial. Não há casamento somente porque se unem, sexualmente, o masculino e feminino. Isso é acasalamento.
Casar é dar sentido a um projecto sério, alicerçado e de longo alcance. Casar é dar sentido ao amor vivido a dois na solidez do diálogo, da vida em comum, da felicidade que se pretende construir, embora conscientes das dificuldades que podem criar barreiras difíceis, mas sempre ultrapassáveis. Casar é fazer com que o desgaste natural da vida não perturbe a consecução dos objectivos e ideais desejados. Nada disto entra no acasalamento. Aí tudo é passageiro: desde os parceiros aos compromissos, desde as responsabilidades ao imediatismo dos prazeres. Tudo é corporal, tudo é satisfação leviana, tudo é sexo, tudo é … prostituição! É o ser humano reduzido ao irracional.
É o casamento, constituição estável da família, num projecto sério de relação, que humaniza a pessoa. Porque aqui entra também a alma: os sentimentos, as emoções, a partilha e o amor. O casamento é um desafio a uma comunhão total e permanente de vida, numa realização conseguida da sexualidade humana. Isto só pode ser entendido, se nos situarmos numa perspectiva de realização vocacional: É um caminho, livremente escolhido e assumido, que nos envolve o corpo e a alma numa linha de verdadeira procura da felicidade. E essa felicidade é possível, se nos sentirmos chamados a construí-la para bem dos dois e dos filhos.
Com princípios religiosos ou sem eles, o casamento é sempre um valor de elevada qualidade, porque envolve pessoas na relação mais profunda da sua dignidade humana: o amor.
Há, todavia, pessoas que nunca conseguirão fazer as outras felizes, porque não têm vocação para construir um lar, para acolher os outros, e, inevitavelmente, vão fazendo da vida um verdadeiro inferno, para si e para os outros.
Quantas desilusões, quantas separações, quantas divergências resultam da falta de projectos de vida, de adiamentos contínuos, e da falta de vontade de encontrar soluções estáveis! Quanto tempo perdido, quando, adultos, agimos com os critérios emocionais dos adolescentes. Dessa maneira, a própria fidelidade matrimonial pode não passar de um simples acasalamento.
É por isso que o casamento é uma questão de vocação, seguida e conseguida até às últimas consequências.

Costa Leite»

2007-06-10

"Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso"

Adquiramos, pois, também nós, a caridade; adquiramos a misericórdia para com o próximo, para nos defendermos da terrível maledicência, do julgamento e do desprezo. Prestemos socorro uns aos outros, como se fossem os nossos próprios membros... Porque "somos membros uns dos outros", diz o apóstolo Paulo (Rm 12,5); "se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele" (1Co 12,27)... Numa palavra, tende cuidado, cada qual à sua maneira, em permanecer unidos uns aos outros. Porque, quanto mais unido se está ao próximo, tanto mais se está unido a Deus.

Doroteu de Gaza (cerca de 500 - ?), monge na Palestina

2007-06-05

Ateus anónimos

Os primeiros cristãos, vindos da cultura hebraica e confrontados com os elevados padrões morais de alguns filósofos gregos, ficaram perplexos. Como conjugar a fé de que Jesus é o único salvador, com tão belas páginas escritas por filósofos, poetas, pensadores que viveram no total desconhecimento de Jesus Cristo e do Povo de Abraão, Moisés e Isaías? Cristãos houve que pretenderam colocar Sócrates, Platão e Aristóteles ao lado dos profetas bíblicos... Surgiu então a “teoria” das Sementes do Verbo. O Verbo de Deus deixa sementes por toda a história e geografia humana.
No séc. XX, cunhou-se a expressão “cristãos anónimos” para significar a mesma realidade: homens e mulheres de boa vontade que não conhecem Jesus Cristo. No fundo, são cristãos sem o saberem.
Vem isto a propósito de uma expressão de González Faus, que tão adequada é para perceber o cristianismo dos nossos tempos. Diz o jesuíta catalão que “há muitos ‘ateus anónimos’ entre os que se confessam crentes”. González Faus salvaguarda que “só Deus sabe quem são e quantos”, mas parece-me que tal expressão explica bem por que é que uma sociedade composta maioritariamente por cristãos aprova leis iníquas ou não acaba com a pobreza, por exemplo. Faltam cristãos anónimos. Sobram ateus anónimos entre os que usam o título de cristão.

J.P.F.