2007-06-05

Ateus anónimos

Os primeiros cristãos, vindos da cultura hebraica e confrontados com os elevados padrões morais de alguns filósofos gregos, ficaram perplexos. Como conjugar a fé de que Jesus é o único salvador, com tão belas páginas escritas por filósofos, poetas, pensadores que viveram no total desconhecimento de Jesus Cristo e do Povo de Abraão, Moisés e Isaías? Cristãos houve que pretenderam colocar Sócrates, Platão e Aristóteles ao lado dos profetas bíblicos... Surgiu então a “teoria” das Sementes do Verbo. O Verbo de Deus deixa sementes por toda a história e geografia humana.
No séc. XX, cunhou-se a expressão “cristãos anónimos” para significar a mesma realidade: homens e mulheres de boa vontade que não conhecem Jesus Cristo. No fundo, são cristãos sem o saberem.
Vem isto a propósito de uma expressão de González Faus, que tão adequada é para perceber o cristianismo dos nossos tempos. Diz o jesuíta catalão que “há muitos ‘ateus anónimos’ entre os que se confessam crentes”. González Faus salvaguarda que “só Deus sabe quem são e quantos”, mas parece-me que tal expressão explica bem por que é que uma sociedade composta maioritariamente por cristãos aprova leis iníquas ou não acaba com a pobreza, por exemplo. Faltam cristãos anónimos. Sobram ateus anónimos entre os que usam o título de cristão.

J.P.F.