2007-07-10

«Tal como vos amei, amai-vos também uns aos outros»

“Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros”… Quem escuta este mandamento, ou melhor, quem lhe obedece, é renovado não por qualquer amor mas por aquele que o Senhor definiu, acrescentando, para o distinguir de afeição puramente natural: “Como eu vos amei”… “Todos os membros do corpo cuidam uns dos outros. Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se alegram com ele” (1 Co 12, 25-26). Com efeito, eles ouvem e observam esta palavra: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros”, não como fazem os desregrados, nem os que se amam apenas porque têm a mesma natureza, mas como se amam os que são “deuses” (Jo 10,35) e “filhos do Altíssimo” (Lc 6,35), para se tornarem assim irmãos do Seu Filho único. Esses amam-se uns aos outros porque Ele próprio os amou, para os conduzir a um fim que os saciará, lá onde o seu desejo poderá saciar-se de todos os bens. Na verdade, todos os desejos serão satisfeitos quando Deus for «tudo em todos» (1 Co 15, 28)…

Aquele que ama o seu próximo com um amor puro e espiritual, quem amará nele senão Deus? É este amor que o Senhor quer separar da afeição puramente natural, ao acrescentar: “Como eu vos amei”. Que é que Ele amou em nós, senão Deus? Não Deus como nós o possuímos já, mas tal como Ele quer que o possuamos quando “Deus for tudo em todos”. O médico ama os doentes por causa da saúde que quer dar-lhes, não por causa da doença. “Assim como vos amei, amai-vos uns aos outros”. Foi para isso que Ele nos amou: para que, por nossa vez, nos amássemos uns aos outros.

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja