2007-02-06

PELA VIDA

Dado que entramos na última semana de uma campanha, da qual já todos estamos fartos, e sabendo que com a aflição natural dos que desesperam pela conquista de mais um voto poderemos assistir a uma onda sensacionalista em que qualquer argumento vale, decidi publicar a minha opinião relativamente a este assunto.

O título que usei para este texto não clarifica a minha posição, até porque é usado pelos defensores do Sim e do Não. Digo-vos ainda que ambos os lados da “batalha” podem, em consciência, dizer-se defensores da Vida. Tudo depende daquilo que em consciência se entende por Vida e também da Vida que se coloca em causa.

Depois desta confusão inicial digo-vos que sou PELA VIDA:
- Do feto, que desde o momento em que o espermatozóide se une ao óvulo, formando o zigoto, e este se fixa na parede do útero, só não se tornará num homem se alguma intervenção excepcional o impedir;
- Da mulher, mãe, que arrisca a sua vida ao praticar a IVG por processos não controlados, em situações de desespero, muitas vezes sujeita a pressões sociais, económicas e legais, que se senta no banco dos réus dos tribunais, mas ao mesmo é responsável por duas vidas, a sua e a do filho que depende de si do momento de gestação até se tornar adulto;
- Do homem, pai, que tem que ser igualmente responsável pelo filho em todos a sua formação, desde a gestação até se tornar adulto;

São estas as Vidas que estão em causa no referendo de dia 11 e é por elas que voto NÃO.

NÃO pelo feto:
- Porque desde zigoto reúne tudo o que é necessário para se tornar um homem.
- Porque está em evolução permanente desde o momento em que duas células se unem, sofrendo transformações em todas as fases da Vida (embrião, criança, adolescente, adulto, idoso).
- Porque tem o mesmo direito à vida que qualquer outro ser e com a proposta de alteração à lei vai deixar de o ter.

NÃO pela mulher, mãe:
- Porque embora a IVG realizada em estabelecimentos legalmente autorizados envolva menos riscos, continua a ser uma intervenção contra a natureza, não estando assim livre de deixar as suas sequelas, físicas e/ou psicológicas.
- Porque o aborto clandestino não se extingue com a liberalização, dado que as suas principais causas são o preconceito, a vergonha ou a inconsciência de quem o pratica ou quem força à sua prática.
- Porque as mulheres que, pelas razões referidas, recorram ao aborto clandestino, com a proposta de alteração à lei, continuarão a sentar-se no banco dos réus, ficando sujeitas a uma pena de prisão, que do meu ponto de vista só se deve aplicar quando há perigo de continuação da prática criminosa. Caso contrário a pessoa que o praticou deve ser ajudada para que não o volte a cometer. (ninguém condena à prisão uma criança que mata o pai porque este maltrata a mãe; ninguém condena à prisão alguém que rouba para alimentar a sua família; contudo, nem o homicídio ou o roubo deixam de ser crime nestas situações).
- Porque a mulher não será mais livre por poder optar, pois estará muito mais exposta à pressão de terceiros (companheiro, familiares, entidade patronal, …), que por sua vez, dado que existe a possibilidade de o fazer legalmente podem, com facilidade, colocar a mulher entre a “espada e a parede”.
- Porque a solução para as mães que não têm condições financeiras para criar um filho passa pelo apoio social, sendo este um dever de um estado democrático, porque não são apenas as mulheres de classe social elevada que têm direito a ter filhos.
- Porque a mulher não se pode demitir da responsabilidade que tem pela vida que está em si. A partir da concepção a mulher deixa de ser um para passar a ser 2. Não pode decidir por si sem pensar que também está a decidir por outra vida. A partir daí a “barriga” deixa de ser apenas sua.

NÃO pelo homem, pai:
- Porque temos que educar o homem no sentido de o responsabilizar pela paternidade desde o início;
- Porque não podemos exigir ao homem que seja pai a partir das 10 semanas se o demitimos dessa função nas primeiras 10;
- Porque vamos levar a que o homem esteja menos disponível para a prática de sexo seguro pois, se algo correr mal, “não há problema nenhum!! Ela tem 10 semanas para abortar”;
- Porque o homem pode exigir que a mulher opte entre ele e a criança, já que sabe que a responsabilidade da escolha é só da mulher.

Contudo, para que um cidadão tenha legitimidade para dizer que isto não é solução, é necessário apontar novos caminhos. Para mim os caminhos a seguir são:
- Uma aposta clara na prevenção: educação sexual (efectiva) nas escolas (não deixar que esta matéria fique sujeita ao critério de professores sem formação especifica, criando uma disciplina distinta e obrigatória); planeamento familiar (que já existe mas que, para muitos, continua a ser desconhecido);…
- Uma aposta clara em politicas de apoio à família: revisão do sistema fiscal que continua a penalizar as famílias (no IRS, que já levou a divórcios por conveniência, nos impostos sobre artigos para bebé,…), medidas de acção social que ajudem famílias em risco, medidas legais que promovam a família como unidade (na sua responsabilidade enquanto célula de uma sociedade, que deve caminhar para a unidade na diversidade).
- Uma aposta em respostas que exijam responsabilidade perante a prática de crimes socialmente aceitáveis (não justificáveis!!), que possam contribuir para a formação de consciências, em contraponto com a deformação de consciências que a actual proposta de lei promove (não podemos ignorar que 74% das mulheres que praticam aborto livre nos EUA, afirmam que não o teriam feito se este não fosse livre; ao despenalizarmos totalmente esta prática estamos a criar a consciência de que a IVG é uma prática tão normal com qualquer outra).

Eu não pretendo convencer ninguém de que a actual proposta é abominável. Apenas quero que pensem que à outras possibilidades. Que mesmo que o NÃO vença o referendo é possível mudar a lei.

Para evitar que as mulheres sejam julgadas não é necessário despenalizar, ao contrário do que o nosso 1º Ministro, eleito por nós Portugueses por maioria absoluta, disse numa das últimas intervenções, acentuando que se o Não vencer é porque os Portugueses querem manter a actual lei. Desta forma recusa-se a aceitar que a proposta é que não satisfaz os Portugueses. É preciso ver que, se o Não ganhar, ganha com os votos da mesma massa humana que o elegeu por maioria. Será que esta massa humana é muito inteligente na hora de o eleger para 1º Ministro mas deixa de o ser na hora de não estar satisfeita com as suas propostas.

Como disse no início é possível, em consciência, votar Sim, principalmente se sobrevalorizarmos a Vida da mulher em detrimento das outras duas Vidas envolvidas. Contudo, não me sinto menos dotado por votar Não.

PELA VIDA, VOTO NÃO

Daniel Sampaio

3 Comments:

At 6/2/07 19:14, Anonymous Anónimo said...

concordo plenamente com as tuas afirmações. E se me desses autorização gostava de ler a tua opinião aos meus alunos da catequese. mesmo como bióloga não arranjo fctos k me façam votar no Sim. **** Carla

 
At 6/2/07 23:14, Anonymous Anónimo said...

Olá daniel!daqui é a graciet.
Acho a tua opinião mt sensata e co nsciente e essa iniciativa de exposisão mostra atitude por isso decidi fazer o mesmo.
Já eu não me vou alongar mt,vou apenas focar alguns aspectos q me fizeram mudar de opinião e optar pelo não.
Deves lembrar-te qd eu, de uma forma demasiado evasiva,com poucos ângulos de visão e ainda alguma falta de informação cheguei a abordar-te sobre o aborto ; por isso sabes q nessa altura eu iria votar sim.Realmente aquele não era o momento certo.Há dias assim!

Ouvi em algures q nós somos uma sociedade claustrofóbica,começei a pensar q se calhar seria mesmo verdade.
Quando olhamos à nossa volta e reparamos q há quem não tenha ponta de meios para criar um filho(há situações mesmo caóticas)achamos q não temos o direito de inferir acerca da sua posição e não temos.Mas a solução não me parece q seja despenalizar o aborto,aí estamos a demitir o governo das suas funções .Há opções ,os pais consoante os seus rendimentos e nº d filhos merecem outra disponiblidade económica por parte do estado assim como outras acessibilidades para a criança crescer com mais dignidade e apoio.Na adoção,por ex acho q não deve haver tantas intransigências;todos nós temos as nossas dores e realmente o q interessa é q haja alguém q cuide.
O ser humano tb deve ser valorizado.Uma senhora contou-me uma história(dona maria,um beijinho ah)de um ovo do seu galinheiro q ainda antes de ser chocado continha no seu interior uma pinta de sangue e ouvia-seperfeitamente o bater do coração.Estando ela grávida ,e para convencer o seu filho do valor da vida,colocou o ovo num copo de água fria até ele chegar.A verdade é q passado um dia o coração continuava a bater.Realmente o ser vivo tem valor,ele luta pela vida.Às vezes,só com situações concretas é q pensamos na força do argumento.
Quanto `à valorização da sexualidade,a minha anterior teoria era q o aborto seja feito ou não pela mulher a consciência de cada um continua a ser a mesma,há apenas a liberdade de dizer não.Mas já ouvi algum pessoal jovem dizer q com o sim à liberalização já não têm de ter tanto a preocupação com o engravidar.Não será preciso educar esta sociedade?
Podemos tb falar da taxa de natalidade.O q será feito dos nossos idosos,não estaremos tb a optar pela sua vida em dignidade?
A opinião que aqui deixo está ainda mt imcompleta,poderia abordar ainda mts mais aspectos mas acho q estes já são suficientes e n me quero estar a cansar mt.
Votando não ,lamento q a lei actual condene as mulheres com pena de prisão no acto de aborto clandestino.Não se sabe até q ponto ela foi vítima de pressões,inclusivé do próprio homem que esteve envolvido no momento da concepção e que tb deveria assumir.Lamento tb q o aborto clandestino continue a existir e sejam sempre os mais fracos os q não têm acesso.
Além disso não acredito mt q a ajuda chegue efectivamente aos que precisam de apoio mas vamos acreditar q alguma coisa há-de mudar.Além disso, vendo por esse ponto de vista não vai ser com a liberalização q ele vai chegar até porq aborto em establecimento legal implica bastantes custos e consequentemente as reservas .
votando sim não estaremos a escolher o lado mais ´fácil?Vamos antes fazer uma distribuição justa!(não ,não vou prá política :=)
E pronto,agora vou é nanar.
Começo a ficar mt tempo em frente ao computador e isto anda-me a fazer mal ao juízo.Quem diria,começo a compreender-te Dani(sem ofensa, claro).
Ai ai chauzito atão

 
At 6/2/07 23:48, Blogger sampa said...

Oi Carla.
O texto é apenas uma posição pessoal. Mas a partir do momento em que está publicada fica acessível e pode ser usada por qualquer pessoa. Se entendes que é adequado para usar com os teus miudos, Força!

Oi Graciete.
Obrigado pelo comentário. Acho que também deverias começar a escrever umas coisas.

Jocax**

 

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