2006-08-28

O homem da décima primeira hora

Um dos ladrões crucificados com Jesus gritava: “Lembra-te de mim, Senhor! Para Ti que me volto neste momento. Não Te falo das minhas obras, porque elas me fazem tremer. Qualquer homem tem boas disposições relativamente aos seus companheiros de viagem; eis-me aqui, Teu companheiro de viagem para a morte. Lembra-Te de mim, teu companheiro de viagem, não apenas agora, mas quando chegares ao Teu Reino” (Lc 24, 42).

Que poder te iluminou, ó bom ladrão? Quem te ensinou a assim adorar Aquele que foi desprezado e crucificado contigo? Ó Luz eterna, que iluminas aqueles que se encontram nas trevas (Lc 1, 79)! “Tem coragem! Em verdade te digo, que hoje estarás comigo no paraíso, porque hoje ouviste a Minha voz e não endureceste o coração” (Sl 94, 8). Por ter desobedecido, Adão foi rapidamente expulso do jardim do paraíso. Tu, que hoje obedeceste à fé, serás salvo. Para Adão, a árvore foi ocasião de queda; a ti, a árvore far-te-á entrar no paraíso.

Ó graça imensa e inexprimível: ainda Abraão, o fiel por excelência, não tinha entrado, quando o ladrão entrou. Espantado com o facto, Paulo comenta: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rom 5, 20). Aqueles que haviam penado todo o dia ainda não tinham entrado no reino e ele, o homem da décima primeira hora, é admitido sem tardar. Que ninguém murmure contra o Mestre: “A ninguém faço injustiça; não terei o poder de fazer o que quero em Minha casa?” O ladrão quer ser justo, Eu contento-me com a sua fé. Eu, o Pastor, encontrei a ovelha perdida e pu-la aos ombros (Lc 15, 5), porque ela Me disse: “Errei, mas recorda-Te de mim, Senhor, quando entrares no Teu reino.

São Cirilo de Jerusalém (313-350), bispo de Jerusalém, doutor da Igreja